segunda-feira, 14 de julho de 2008

ODE AOS PÉS


ODE AOS PÉS


O pé direito é diferente do esquerdo. Ele parece se movimentar mais rápido, mas o esquerdo está sempre presente. Os dois vão à luta levando corpo que se equilibra em cima deles.
Pés para dançar, vencer e até mesmo fugir do perigo. Pés para dar liberdade, pois sem os tais as pernas não seriam nada.
Pés que amassam as uvas para o preparo do vinho. Pés para roçar o corpo da pessoa amada, acariciá-la no aconchego da manhã.
Pés descalços entrando e saindo das Minas de ouro enriquecendo o país. Pés calejados, sofridos e pisados por outros pés. Pés correndo nas florestas buscando o existir. Pés nos campos de futebol resgatando a alegria. Pés dos garimpeiros, machucados, feridos, buscando a esperança de um dia melhor. Pés pisando nos gramados e que balançam as redes, fazendo vibrar de emoção milhares de corações patriotas. Pés nas avenidas dançando samba. Pés dançando baião e xaxado. Pés dos congadeiros dançando alegres nos caminhos e nas ruas lembrando nossos ancestrais. Pés bem cuidados, de unhas pintadas e bem feitas. Pés da bailarina que se equilibra; magia que está na ponta dos dedos. Pés fincados no chão ou tombados por um trecho de terra.
O esquerdo está sempre ao lado do direito. Estão se harmonizando para a festa de outros pés. Pés chatos, bruscos. Pés ásperos. Pés que continuam levando sua bagagem para o futuro.
Pés massacrados. Pés embrutecidos, cruzando rios, pinguelas e pontes. Pés subindo e descendo morros. Pés que amassam o barro para fazer barracos de pau a pique. Pés delicados se unindo aos rústicos. Pés para lutar capoeira... E fugir da injustiça.

O Plantador de Manhãs, Santiago Dias.

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